Pisou devagar na linha
Desafiou a vista
Brincou de costurar
Desanuviou os cruzamentos do vestido
Gasto com o tempo e com os delírios
Brincou de se reinventar
Criando novas fantasias em roupas velhas
Pisou devagar na linha
Desafiou a vista
Brincou de costurar
Desanuviou os cruzamentos do vestido
Gasto com o tempo e com os delírios
Brincou de se reinventar
Criando novas fantasias em roupas velhas
vivo pra morrer de saudade
e todas as noites parecem pardas
quase incendiárias
com seus ocres e mel
escorridos pelas paredes das calçadas
Adoçam o céu
invertem as incertezas
desnuda vulcões
e trazem as erupções para dentro
do outro lado
Quase sempre a mesma calçada
na beira dessa casa em que ninguém se muda
Te amo enquanto espero o ônibus de manhã
E depois do café que escorre na panela
Devagar
Te amo enquanto corro a tarde para voltar
E depois de um sonho
Desesperadamente
Te amo dentro do mar
E fora dele
Por dentro
E nas extremidades
Calmamente
Te amo enquanto enfrento as filas mais longas
E depois de esquecer de pagar as contas pequenas
Distraidamente
Te amo enquanto sonho
E depois que acordo
E os passarinhos brincam de existir
Te amo até quando não sei quem sou direito
E quando os dias doem e parecem mais frios
E também depois de quentes…
E quando a gente se entrega ao mar
Ao nosso…
Como uma oferenda …
Roberto Juarroz
Un amor más allá del amor
por encima del rito del vínculo,
más allá del juego siniestro
de la soledad y la compañía.
Un amor que no necesite regreso,
pero tampoco partida.
Un amor no sometido
a los fogonazos de ir y de volver,
de estar despiertos o dormidos,
de llamar o callar.
Un amor para estar juntos
o para no estarlo,
pero también para todas las posiciones intermedias.
Un amor como abrir los ojos.
Y quizás también como cerrarlos.
Talvez fosse cedo demais
Para não dizer nada
E o silêncio azul claro
Daquela cidade
Não afastava nem um segundo
O terremoto
Era tarde
Muito noite
Distraída saudade
Liquidificada no vazio
Das eletricidades invisíveis
Acendendo as pequenas lâmpadas
De dentro
Quarenta velas
Pouco calor
Manta de brisa
Quase nuvem
Neblina emprestada
Das ruas
De dias atrás
De anos
Até de séculos
Desfeitos num só pedaço
De tempo
Explodindo
Tudo.
Nossas peles
Profundas
Sagrado lugar de abrigar arrepios
Mãos
Línguas
Coragens
Caixinha de surpresas e frios
Movimento
Transporte para outros planos
Absinto
Sensação única de água pura
Claridade, infinito, realinhamento.
Depois das nove
Tudo é realejo
Anti realidade
Teu beijo
Depois das nove
As cores todas gritam
E giram silentes como um amuleto
Depois das nove
Existem sirenes
Sininhos
Coisas amenas
Desaparecem
Depois das nove
Ele chega
E enlouquecido
Meu pensamento se perde
Feito loucura em noite de sol
Delírio, vertigem, firmamento.
Como uma caixinhas de melindres
Descubro outras aberturas
Por baixo
Pelos lados
Para não deixar escapar mais nenhum deles
A vida não os precisa
Nem tampouco os dias
Eles servem para outros tempos
Em que as coisas e os restos
Sobram
Te aguardo
Como se fosse um domingo
Fim de tarde
Noitinha
Dia de guardar silêncio
Agonia
Te aguardo
Entre as coisas do dia e os nãos da vida
Até que se torne tudo sim
E iremos passear na pracinha
Te aguardo
Entre esses medos todos e as notícias felizes
Quando um pouco de graça
Desperta
E até a água
Morna,
Dilacera
Esqueci de te esperar hoje.
Avó, menina
Mulher dos olhos de mar
Ventania
Cidade inteira para abrigar palavras
Mundo no ventre daqui
Dela nasceram sonhos
Meninas, Menino, Menina, Meninos…
Dela nasceram países
Que se renovam
Toda vez que ela entra aqui
E passa
E volta
Sempre permanece
Com suas mãos de coragem
Com seus dias de luz
É ela
A menina, que nos balança
Nossa rede
Nosso solo
Nossa vida inteira.
(Para minha mãe e avó de Pedro e Nicolle)